
“Nunca foi um sonho, sempre foi uma realidade”
Celso Orlando da Silva Leite dispensava apresentações. A voz marcante das manhãs da Educadora dedicou mais de 40 anos ao rádio, onde fez amigos e história. E onde deixou uma legião de ouvintes e fãs.
Nascido em novembro de 1958, dois anos antes da Fundação da Educadora, Celso Leite cresceu ouvindo a rádio que o acolheria ainda jovem, aos 22 anos, para o seu primeiro emprego. Foi contratado num 1º de março de 1980, na função de locutor esportivo. O esporte, aliás, era uma das paixões de Celso. Ainda na década de 1980, foi a campo como repórter, para cobrir e testemunhar grandes momentos do futebol paraense. Na função de locutor esportivo, foi uma das vozes mais expressivas do time que faz a cobertura esportiva da Educadora. Apresentou os programas “Na marca do pênalti”, “Vesperal Esportivo”, “Sertão Maior” e “Calendário Social”, “Sessão Saudade” e “Rádio Sucesso". Mas foi no “Show da Manhã”, que conduziu até os últimos dias vida, que escreveu seu nome na história do rádio paraense.
Em 2018, quando a Educadora se preparava para completar 58 anos, Celso registrou em vídeo suas memórias sobre a história da rádio que ele ajudou a escrever: "Dom Eliseu queria levar a cidade para o interior. E qual era a maneira? Pelas ondas sonoras. Vamos informar, vamos evangelizar, vamos educar pelo rádio”, diz Celso Leite.
"Lá no interior, tinham sim escolas, mas até a quarta série. Não era um sonho não, foi um projeto bem pensado. E aí surgiu nos céus da Amazônia um novo som, a Voz Católica da Família Paraense”, lembra o radialista, em depoimento disponível nos arquivos da Educadora.
"E o povo do interior tinha outra dificuldade, porque não tinham os rádios. E aí a Educadora compra os rádios e entrega. Eram os rádios com sintonia cativa, usados nos radio-postos. Pegavam o rádio que a Educadora dava, botavam em cima de uma mesa e ali acompanhavam a aula, nos radio-postos. A mesma coisa aos domingos: coloca-se o rádio ali no altar das capelas e o povo se reúne para acompanhar a missa que era transmitida aqui da matriz”, conta Celso Leite.
O radialista fazia questão de lembrar do vínculo permanente entre educação e evangelização nos esforços da Educadora, desde os primeiros anos da emissora. E se orgulhava de fazer parte da história de transformações da rádio:
"Nós estamos vendo a Rádio Educadora hoje tão moderna quanto naquele tempo. Porque naquele tempo ter uma emissora de rádio era algo ultramoderno. Ninguém nem acredita. Hoje, viramos a Fundação Educadora, temos a FM, nos adequamos à realidade da internet. E a aula do Serb continua com tantos alunos ou mais quanto naquele começo. E hoje muita gente tem o doutor na frente dos seus nomes a partir dos ensinamentos do rádio, quer seja no interior ou na cidade”, disse. "Se tem alguém orgulhoso e que deve aplaudir de pé a história da Educadora é o povo de Bragança, é o povo da Amazônia. Que a partir do pensamento do projeto de Dom Eliseu e com o apoio do Padre Miguel, quem se beneficiou foi parte do Brasil, parte da Amazônia.”
Celso Leite morreu aos 60 anos no dia 24 de agosto de 2019, deixando um legado de amor pela comunicação e pela educação.
O radialista foi membro da Academia Bragantina de Artes e Cultura ocupando a cadeira nº 5 do patrono Jorge Daniel de Sousa Ramos, poeta e jornalista. No futebol, foi membro do Conselho Deliberativo e posteriormente presidente do Bragantino Clube do Pará. Celso Leite também teve uma expressiva carreira política, entre 1989 e 2006, tendo sido eleito vereador e prefeito de Bragança.
Texto - Filipe A. Sanches
Texto - Filipe A. Sanches